“Marcas” da Copa América atormentam Seleção em amistoso
Como iniciar uma nova história se as lembranças da última decepção são tão recentes? Com esse dilema, a Seleção Brasileira se reencontra em Stuttgart, para o amistoso desta quarta-feira contra a Alemanha, apenas três semanas depois da eliminação nas quartas de final da Copa América para o Paraguai. E a impressão é de que o jogo será uma prolongação do torneio sul-americano.
Diferente de fracassos em que há uma ruptura de comando técnico e da filosofia de trabalho, consequência usual de fiascos no futebol, desta vez tudo parece igual. O técnico ainda é Mano Menezes e 15 – 17 se contarmos os cortes de Lucas Leiva e David Luiz – dos 23 jogadores que estiveram na Argentina se reencontram na Alemanha. Para completar, o time titular esperado para o amistoso só não será o mesmo porque Lucas Leiva está suspenso.
Não à toa, os jogadores tiveram que, em suas primeiras entrevistas, remoer assuntos da última Copa América. Neymar voltou a ser cobrado por um futebol igual ao que apresenta no Santos, o lateral André Santos falou sobre um dos quatro pênaltis perdidos contra os paraguaios, Robinho disse que não há trauma pelo vexame naquela decisão – nunca antes no torneio uma seleção havia perdido todas as penalidades – e todos disseram que ainda estão doídos pela eliminação.
Sobrou espaço até para a falha de Júlio César na primeira fase contra o Equador, quando ele engoliu um frango. "Traz um pouco de tristeza qualquer tipo de falha. Pelo menos naquele jogo a gente ganhou", disse o goleiro veterano, que deixou a Copa América desgastado, mais ainda se coloca como um dos líderes do atual grupo.
"Tem jogo que vai ficar marcado na sua carreira. Nesta horas tem que ter controle emocional e psicológico para mostrar que é jogador de Seleção Brasileira. É em um momento como esse que temos que mostrar força", disse, com a experiência de ter superado momento até mais doloroso com o fiasco na Copa do Mundo de 2010.
Prioridade: ganhar o 1º grande jogo
A palavra recomeço marcou o discurso de quase todos os jogadores da Seleção. E para a história não ter um início parecido com o passado, o Brasil de Mano precisa vencer um grande adversário, ou uma grande decisão. Nos próximos 12 meses, sem torneios oficiais, será possível apenas superar primeiro obstáculo. Rivais de peso não faltarão – Itália e Espanha já estão na agenda da Seleção -, mas quanto antes esta cobrança for encerrada o treinador terá mais tranquilidade para trabalhar.
"A pressão é grande. Se tiver uma vitória contra a Alemanha com certeza a pressão vai diminuir e a desconfiança vai acabar em cima dos jogadores. Tá na hora sim (de ganhar de um grande). Quando tivemos adversários fracos, vencemos. Mas precisamos de uma vitória contra um grande para engrenar de vez", disse o volante Ramires.
Em 12 jogos pela Seleção Brasileira, Mano Menezes coleciona seis vitórias, quatro empates e duas derrotas. O problema é que o Brasil fracassou nos clássicos contra França e Argentina e não conseguiu passar pelo Paraguai por duas vezes, nem pela Holanda. Dos demais adversários, o único que de alguma forma poderia complicar o Brasil, os Estados Unidos, vinha de uma Copa do Mundo desgastante e teve um rendimento pífio no amistoso de agosto de 2010, na estreia de Mano.
Mesmas caras
Relevando os Jogos Olímpicos, disputados por uma Seleção com jogadores abaixo dos 23 anos, o técnico Mano Menezes enfrenta um desafio que nos últimos 10 anos só caiu nos colos de Felipão: resgatar um time que fracassou em suas próprias mãos. O treinador administrou o fiasco da Copa América de 2001 e no ano seguinte ganhou a Copa do Mundo. Carlos Alberto Parreira e Dunga chegaram ao Mundial com os trabalhos validados pelas conquista do torneio sul-americano e da Copa das Confederações.
Para repetir Felipão, Mano optou por, em um primeiro momento, convocar a mesma base que fracassou na Copa América. Contribuiu para a escolha o fato de ser possível a realização de apenas um treino antes do duelo – e consequentemente pouco tempo para dar padrão a um time novo – e a força do adversário. Nas próximas convocações, até mesmo pelo planejamento olímpico, a renovação deve se acentuar na Seleção, mas a espinha dorsal parece inviolável para Mano.
Júlio César; Daniel Alves (Maicon perdeu voo e não conseguirá treinar), Lúcio, Thiago Silva e André Santos; Luis Gutavo(no lugar do suspenso Lucas Leiva), Ramires e Ganso; Robinho, Pato e Neymar. O Brasil que iniciará a tentativa de recuperar a confiança dos brasileiros será praticamente o mesmo que não conseguiu passar pelo Paraguai.
De alento para o torcedor, ao menos uma lembrança positiva: o Brasil realizou contra os paraguaios a sua melhor partida na Copa América, o que deu o treinador a certeza de apostar com as mesmas cartas na mão. Mas na hora da jogada final, os traumas reaparecem: a Seleção chutou 26 bolas no gol (incluindo os quatro pênaltis) e não marcou sequer um. "A gente sabe que o que mais importa agora é o resultado", resume Fred.