HOJE NA HISTÓRIA – 18 de junho de 1979 – O Teatro perde Procópio Ferreira
Procópio Ferreira
Aos 81 anos, morreu de enfisema pulmonar o ator e empresário teatral Procópio Ferreira. Afastado dos palcos devido a problemas de saúde, pretendia retomar um projeto de encenar peças em escolas cariocas, numa tentativa de popularizar a dramaturgia.
Procópio Ferreira foi um fenômeno histórico do teatro brasileiro, inexplicável por teorias, avaliações ou análises. Antíteses de todos os padrões teatrais vigentes nos anos 20, quando iniciou sua carreira, abriu caminho no palco com a inabalável convicção de que sabia dominar a platéia. E realmente sabia.
Com excêntricos atributos físicos, poucos apostariam no encantamento de sua veia artística. Cômico, dramático, trágico, jovem, velho, descobriu desde cedo como envolver a platéia, arrastando a seus espetáculos contingentes de público de fazer inveja aos maiores sucessos de bilheteria.
Centralizador, nada escapava ao seu controle, da inquietação do público durante o espetáculo às questões burocráticas da companhia. Individualismo que sempre afirmou, mas que não ofuscou sua celebridade, mantida pela eclética política de seu repertório, determinado ao sabor do gosto popular. Essa foi a única diretriz de sua carreira, de seus avanços e recuos, de suas ousadias e fidelidades. A grande mensagem que deixa é o exemplo de persistência. Dignificou a profissão por 60 anos, quando a categoria vivia obscura ao reconhecimento: "A sociedade que trata seus artistas como mendigos, confessa, implicitamente, ignorância, incultura, no domínio dos seus próprios destinos".
Consagração com o maior sucesso
Em sua notável carreira, Procópio Ferreira representou mais de 500 papéis. A consagração veio com a encenação de seu maior sucesso, Deus lhe Pague, escrita especialmente para ele por Joracy Camargo. Interpretando o protagonista da trama, um mendigo que enriquece pedindo esmola na porta de uma igreja, satirizava a filantropia, denunciando a má distribuição de renda, a exploração do trabalho e a prepotência dos patrões. Durante mais de 40 anos, o espetáculo foi encenado 3.621 vezes sem qualquer modificação na montagem ou no texto desde a apresentação de estréia, em 1932.