Greve dos caminhoneiros começa forte no Paraná

O Paraná registrou ontem 24 pontos de bloqueio de rodovia no primeiro dia da greve nacional dos caminhoneiros. Tendo como pauta principal a renúncia da presidente Dilma Rousseff, o movimento ganhou apoio de empresários, religiosos e até de defensores da intervenção militar.

A reportagem esteve em quatro manifestações da região, duas em Arapongas, km 277 da PR-218 e km 178 da PR-444, uma em Apucarana (km 245 da BR-376), e a do trevo entre Londrina e Cambé, na BR-369.

Por volta das 15 horas, a imprensa chegou no momento em que os manifestantes iniciavam o bloqueio da PR-444, próximo à praça de pedágio. Ali, a iniciativa não foi de caminhoneiros. O responsável por começar a parar os caminhões foi o integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), César Canastro. "Eles (os caminhoneiros) não têm liderança nesta rodovia, então nós viemos dar esse apoio", afirmou. O militante diz que a greve é sua última esperança de ver o fim do governo do PT. "Essa é a derradeira. Ou se muda, ou teremos de esperar até 2018 (último ano da gestão Dilma Rousseff)", declarou.

Na PR-218, o autônomo de Apucarana André Gustavo Pereira se assumiu como um "caminhoneiro que está lutando pelo povo". "Com esse governo não tem negociação. É mentiroso, prometeu mas não cumpriu", afirmou ele em relação às reivindicações da categoria que não foram atendidas na greve do começo do ano. "Vamos ficar até a renúncia da Dilma", garantiu.

A paralisação na BR-376, em Apucarana, em frente a uma cooperativa, era a que tinha maior número de caminhões e manifestantes. Havia começado às 6 horas da manhã. Parte dos veículos foram estacionados no pátio da cooperativa e outros ficaram à margem da rodovia. Ali, havia até uma mesa de som tocando música popular e hinos brasileiros. O microfone estava à disposição para quem quisesse discursar.

Um grupo intitulado "Cristãos pelo Brasil" fazia panfletagem contra o PT que estaria "destruindo a família brasileira". Um dos representantes, Fernando Felipetto, de Apucarana, disse que a pauta da greve é a mesma que a deles. "Queremos a queda do governo. Que o Brasil seja devolvido aos brasileiros", afirmou. Ele falou em nome dos caminhoneiros: "Só vamos negociar a partir da queda da Dilma."

Muitos dos motoristas parados no local estavam contrariados. Um deles era o autônomo de Apucarana Leonardo Pontes "Eu não estou fazendo greve. Não concordo com esse tipo de greve que nos obriga. 98% dos motoristas não queriam estar aqui", disse. Questionado se ele não poderia ir embora, respondeu: "Se pedir para passar, ameaçam danificar o caminhão." Pontes reclamou pelo fato de não haver banheiro nem local para comprar comida nas redondezas.

Para ele, os caminhoneiros estão sendo usados na greve. A afirmação se referia à presença de pessoas de fora da categoria. "Mas se der algum problema, quem vai aparecer nas manchetes como culpados serão os caminhoneiros", reclamou.

Outro revoltado era Marcelo Luiz da Silva, de Cruzeiro do Oeste. Empregado de uma confecção, ele passou pelo local com um veículo comercial Fiorino. Mesmo assim, foi barrado. "Não sei nem onde vou dormir", disse.

 

Londrina

Por volta das 17h30, teve início o bloqueio na BR-369 nos dois lados da pista, no trevo entre Londrina e Cambé. O caminhoneiro José Henrique Fernandes era um dos que ajudavam a parar os caminhões. "Queremos a saída da presidente. Só isso vai resolver. Não adianta negociar com esse governo", disse. No local, os motoristas receberam o apoio de pessoas solidárias à paralisação. "Sou cidadão. Sou um brasileiro. Vim apoiar", justificou o empresário Ricardo Cortes, que levou água e comida para os caminhoneiros.

Perto dali, uma mulher distribuía panfletos a favor da intervenção militar. O caminhoneiro José Cristo recebeu a publicação e afirmou que "qualquer coisa é melhor que o PT". "Não somos contra os militares", declarou.

 

 

FONTE – FOLHAWEB