Campeonato Brasileiro começa com grande expectativa
Veja os 10 motivos que podem fazer deste, o maior Brasileiro de todos os tempos
"Estou a cinco metros da próxima Libertadores, enquanto essas equipes do Campeonato Brasileiro, estão a cinco mil quilômetros". A frase polêmica e marcante foi dita por Renato Gaúcho, em junho de 2008, às vésperas da decisão continental contra a LDU, de triste memória para ele e o Fluminense. Àquela altura, representava o quanto o futebol nacional ainda não havia assimilado a complexidade de uma Série A em pontos corridos.
Na 41ª edição, o Campeonato Brasileiro deste ano traz ingredientes que evidenciam como os clubes nacionais já abordam a competição de outra maneira, com seriedade desde o início e a lição de que todos os jogos têm o mesmo peso, da primeira até a última rodada. Sem tantas equipes envolvidas em outras competições, a tendência é que a Série A seja forte do início ao fim.
Abaixo, segue lista de dez fatores que fazem desse um possível melhor Campeonato Brasileiro de todos os tempos. Tudo bem, você já ouviu esse discurso em outros anos, mas 2011 é realmente uma temporada especial. Personagens envolvidos na competição, como o presidente santista Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, atestam a tese. Confira:
1) DINHEIRO QUE NÃO PARA DE CRESCER
Segundo levantamento da consultora BDO RCS, o mercado brasileiro de clubes de futebol teve superávit de R$ 2,18 bilhões no último ano, uma evolução de 13,4% em relação à temporada 2009 e de 171% em relação há oito anos, quando o mesmo índice era de R$ 805 milhões.
Com os cofres cheios, os clubes brasileiros podem investir cada vez mais em elencos qualificados e aprimorar a infraestrutura. O Corinthians, por exemplo, investiu 6 milhões de euros na contratação do meio-campista Alex, 29 anos. Para ter Luís Fabiano, o São Paulo pagou até mais: 7,5 milhões de euros. Outro caso que ilustra o poder da Série A é o retorno de Ronaldinho ao Brasil, alinhavado pelo Flamengo no mês de janeiro.
Luis Alvaro, presidente do Santos: "a administração passada do Santos colecionou um prejuízo mensal da ordem de R$ 2 milhões. Encontramos situação alarmante. Quando assumimos, demos condições de o clube andar com suas pernas. Aumentamos a receita, não gastamos mais do que arrecadamos e montamos um elenco competitivo. Entramos em um círculo virtuoso: disputando e ganhando títulos você tem mais audiência, exposição, patrocínio e receita"
Marcelo Oliveira, treinador do Coritiba: "os clubes tomam consciência dessa parte comercial, de ampliar o caráter de empresa, e isso gera mais recursos. A atitude de negociar diretamente com as televisões foi madura e elevou mais as receitas"
2) REFORÇOS DE EXPRESSÃO
O movimento de grandes jogadores a caminho do futebol brasileiro tem se intensificado nos últimos meses e teve em Ronaldinho, no Flamengo, como já fora Ronaldo, em 2009, um elemento para atrair até outros nomes.
Luís Fabiano, Alex e Guilherme são as principais novidades para o início do Campeonato Brasileiro, mas é provável que os clubes tenham reforços ainda mais expressivos nas próximas semanas. Gente como Seedorf, Forlán, Zé Roberto e Vagner Love é cotada para o segundo semestre.
Enderson Moreira, treinador do Fluminense: "o investimento cresceu e isso aumenta o nível técnico. Mas, por outro lado, a grande quantidade de jogos no calendário favorece lesões e gera prejuízo técnico e financeiro"
Ney Franco, treinador da Seleção Sub-20: "o futebol se faz com ídolos. Se você tem jogadores conhecidos internacionalmente, cria a possibilidade de haver simpatia pelos clubes brasileiros. Quem torce pelo Barcelona sabe que o Ronaldinho é do Flamengo e isso cria uma situação. Há outros exemplos"
3) MANUTENÇÃO DOS CRAQUES
A abertura da janela de transferências para a Europa ocorre nas próximas semanas, mas não deve ser razão para tanto pavor como em outros anos. Com mais recursos, os clubes brasileiros podem resistir, caso do Santos, que anuncia não ter interesse em negociar Neymar e Paulo Henrique Ganso. Ou do Inter, que pretende atravessar o período sem ter baixas. Segundo a BDO RCS, as negociações de jogadores sofreram retração nas últimas três temporadas.
Roberto Siegmann, vice de futebol do Inter: "da nossa parte, a vontade é não vender jogadores. Temos as contas bem equilibradas".
Enderson Moreira: "vejo os clubes mais resistentes. Afinal, pagamos bons salários e temos melhor estrutura. O atleta com mercado no exterior pensa mais antes de sair, mas existem propostas realmente irrecusáveis"
Luis Alvaro: "temos a convicção de que a economia brasileira cresceu muito. Não somos mais meros exportadores. Temos produtos acabados, refinados. O jogador que sai antes tem o risco de não emplacar, é o caso típico do André. Veja o Neymar: a administração anterior quase o vendeu no apagar das luzes por US$ 12 milhões. Oito meses depois, tivemos oferta de 35 milhões de euros. Isso nos faz resistir a vender quem está em desenvolvimento. Não precisamos vender para pagar as contas. Quando você vende os bens de ativo, é o começo do fim"
4) MANO MENEZES VALORIZA O FUTEBOL BRASILEIRO
Dos 28 jogadores convocados por Mano Menezes para os amistosos de junho contra Romênia e Holanda, 10 atuam no futebol brasileiro e em oito clubes diferentes. O treinador costuma dizer que transferência para o exterior não é garantia de mais espaço na Seleção. A mentalidade dá mais força para que os bons jogadores permaneçam no País e outros aceitem retornar.
Enderson Moreira: "ele trabalhou nas categorias de base e em clubes do interior, por isso sabe valorizar nosso futebol. Está sempre atento aos atletas que atuam por aqui"
Roberto Siegmann: "é ano de convocação importante para a Copa América. Ele valoriza o futebol brasileiro e isso traz visibilidade para os jogadores"
Ney Franco: "voltaram alguns jogadores e não saíram tantos outros. Você vê a convocação e tem vários que atuam no Brasil. Isso valoriza o campeonato, você acompanha os atletas mais de perto"
5) COPA DE 2014 ATRAI OLHARES PARA O BRASIL
De acordo com dados do Clube dos 13, a edição 2011 do Brasileiro será transmitida para 170 países diferentes. O número cresce com a proximidade da Copa de 2014 e também a presença de jogadores mundialmente famosos, como Ronaldinho e até mesmo Neymar.
Ney Franco: "o Brasil hoje, com a ligeira questão da melhora econômica, com os clubes tendo mais potencial, gera notícias lá para o exterior. Tem a volta do Ronaldinho, por exemplo. Isso, aliado à Copa, coloca o País em outra situação"
Luis Alvaro: "essa valorização é inegável. A imprensa de todo o mundo se concentrará no Brasil por conta de 2014 e essa exposição ajudará na valorização. Tenho convicção de que o Neymar pode ser eleito o melhor do mundo atuando pelo Santos pela exposição que terá"
6) FOCO TOTAL NO CAMPEONATO BRASILEIRO
Já na segunda rodada do Campeonato Brasileiro, apenas três clubes estarão em disputa de outras competições: o Santos, na Copa Libertadores, e os finalistas da Copa do Brasil. A catastrófica fase de oitavas de final da mesma Libertadores, com quatro clubes eliminados, aumentou a disposição em conquistar a Série A. Com isso, a situação de equipes reservas nas primeiras rodadas deve ser quase nula.
Marcelo Oliveira: "vamos entrar forte, não temos a ideia de nos poupar. É iniciar bem o campeonato porque em pontos corridos todos os jogos são decisivos. A ideia é jogar com toda a vontade e iniciar bem já mudando o foco da Copa do Brasil"
Fábio Santos, lateral do Corinthians: "algumas equipes treinaram duas semanas para a estreia e começam do zero, com força máxima. Todos entram com foco no Brasileiro. A disputa será melhor desde o início"
Roberto Siegmann: "nós ainda temos a Recopa Sul-Americana, mas todos entram muito ligados. Na minha leitura, temos que começar ganhando pontos e não perdendo pontos"
7) RIVALIDADES À FLOR DA PELE
A forma como se encerraram os campeonatos estaduais fará com que as rivalidades locais estejam em ebulição para o Campeonato Brasileiro. Decisões como o Gre-Nal, Cruzeiro x Atlético-MG, Atle-Tiba, Flamengo x Vasco da Gama, Corinthians x Santos e Corinthians x Palmeiras prometem aumentar a temperatura quando os clubes se reencontrarem.
João Nílson Zunino, presidente do Avaí: "acho muito bom (encontrar o Figueirense na elite), porque só têm se enfrentado em Estadual nos últimos tempos. Se encontraram pela Série B e depois disso só em nível regional. Será muito importante para o futebol de Santa Catarina"
Roberto Siegmann: "faz 53 anos que estamos na frente do Grêmio, seja em Campeonatos Gaúchos ou em clássicos Gre-Nais. Isso já é costumeiro para nós"
8) O PROVÁVEL FIM DAS MARMELADAS
Torcedores de Palmeiras e São Paulo marcaram as rodadas finais do Brasileiro 2010 ao pedir que as equipes não superassem o Fluminense e ajudassem ao Corinthians. A CBF agiu para tentar reparar o feito, o que promete rodadas finais alucinantes. Na jornada final, marcada para 4 de dezembro, são oito duelos estaduais, além de Bahia x Ceará.
Enderson Moreira: "são mudanças importantes, principalmente quando há confrontos que envolvam rivais. Mas isso é muito difícil de acontecer no futebol profissional. Esse tipo de coisa fica restrita aos torcedores"
Marcelo Oliveira: "por um lado, é positivo, porque o torcedor pode vislumbrar uma derrota e isso prejudica. Mas por outro é ruim, pois às vezes uma equipe não aspira mais nada e o outro está em situação boa"
9) RECORDE DE CLÁSSICOS
Com os acessos de América-MG e Figueirense, o Campeonato Brasileiro de 2011 promete ter 36 clássicos, média de quase um por rodada, o que é recorde recente da competição. A grande novidade é o duelo Avaí x Figueirense, algo inédito na elite do futebol brasileiro. Rivalidades também devem significar uma média de público superior aos últimos anos.
João Nílson Zunino: "valoriza muito a competição. A rivalidade nos clássicos locais leva público ao estádio e há sempre aquele desejo de vencer a partida. E isso independente da classificação das equipes, se almeja algo ou não"
10) OS TREINADORES EM CASA
Falcão no Inter, Renato Gaúcho no Grêmio, Luiz Felipe Scolari no Palmeiras, Silas no Avaí, Abel Braga no Fluminense, Vanderlei Luxemburgo no Flamengo e Adílson Batista no Atlético-PR. Poucas vezes um Campeonato Brasileiro teve a presença de tantos treinadores identificados com os clubes que dirigem.
Ney Franco: "acho isso legal e o mercado de treinadores no Brasil compete com Oriente Médio e Japão. Eles têm mercado interno e conseguem ficar por aqui. Toda essa identificação é legal, mas a cobrança é a mesma. O torcedor esquece disso"
João Nílson Zunino:: "há um compromisso desses treinadores com as equipes e os torcedores. O Silas ficou dois anos conosco e até brincamos de fazer agora um contrato de três temporadas. Conhecemos o perfil do treinador e ele funciona na nossa equipe"